Quantos natais são suficientes para o amor?

Historieta

Juan Costa Carreiro
4 min readDec 12, 2022
Photo by John Matychuk on Unsplash

Não sou tão bom em falar de amor ou se quisermos ir mais além, digamos de todas as coisas que se sentem. Talvez por isso, quando alguma esperança de sentimento se impregna bem nos meandros dos meus pensamentos, distorcendo-os a convexionar as ideias, um duende solitário e engenhoso que fica brincando perto das artérias do meu coração desperta em rebuliço e fica a coçar os meus dedos até que eu escreva. Às vezes os propósitos da escrita já se passaram, mas ele, melodramático que é, fica saudoso — tadinho! — e encharca os olhos esbugalhadinhos na esperança de me comover a escrever… bem, cá estou, pequeno duendinho saudoso! Quanto ócio lhe sobra para amar tanto? Algumas criaturas talvez tenham sido feitas apenas para amar, e de pessoa a pessoa vamos sentindo o quanto seu duende sabe chorar.

O resultado disso? Pequenas cartas de amor. Algumas se guardam, outras se perdem — mas estas eu não conto ao pobre duende, digo que não tive coragem para as dar, que causa feridas menores. Acabo por me questionar… será que somos nós que nos amamos ou nossos pequenos duendes que se conhecem há milênios e só querem se reencontrar quando sentem um ao outro? Bem, por fim, por ser um duendinho quem a tal ato me leva, gosto de pensar que são como cartinhas de natal! Ah, e quantos natais são suficientes para o amor? São nessas brincadeiras que percebemos… somos nós que fazemos o tempo e seus eventos.

Por esses dias, quis me incitar a escrever uma canção enquanto me preparava para almoçar, não pelos amores que andam, mas pelas saudades que deixam um gosto — duendinho saudoso! —, mas como nada sei de acordes e ritmos para saber o que poderia ou não fazer de canção, deixei um poema de rimas pobrezinhas, sem melodia e esperança para a última paixão. E desde então o pobre duende o canta na sua gondolazinha enquanto singra os rios que desaguam do meu coração, e como sem melodia é o poema, a cada vez que canta o modela com as movimentações do seu sentir.

O que você faz com esse teu amor?
Que não me sobrou.

A quem deve ir o teu sorriso
Quando eu não posso ver?
E quando pensa em mim
Como ele deve parecer?

Se tiver sido eu que errei
Não tenho como consertar?
Por que guarda amor meu aí dentro
Se nunca se atreve aos dedos coçar!
Ouvia de mim que era questão de tempo
Até você me amar!

Ah, que coração é esse
Que a quase fundo compreendi
Mas nada posso tocar!

O restante do poema eu queria poder contar para vocês, mas assim que ele viu que estava feito, correu para tomá-lo de mim e o levou consigo para dentro, e quando passa desse trecho, canta só para si, para que eu não o ouça. Acho que eu nunca soube lhe dar muito ouvidos, e talvez por isso tenha se tornado tão impulsivo e resguardado; a mim restou o papel do pai que lhe dá o que quer porque ficou desesperançoso de reconquistá-lo pela escuta.

Da primeira vez que me levou a escrever para alguém, estava todo tímido, e quis fazer de modo a parecer que era brincadeira, sem pretensão! Era tão pequeninho e já muito sonhador, mas com sua timidez, me deixei levar e entendi que não era sério. Foi o primeiro tropeço para não levá-lo a sério de todo. Hoje entendo. Quanto amor há no seu pequeno coração, caro duende! Há tanta delicadeza no seu gesto… nas suas fantasias… nos seus abraços. Se estiver pendurado nos meus olhos, espero que leia isso! Sim, sim, falhei com você. E hoje tão crescido, tão esclarecido. Quanto devo ter a aprender do amor contigo, não devo? Pois então, já que me pedes tantas cartas de amor, tome esta para si, pequeno duende! Ninguém é perfeito, entende? E bem, esteve comigo todos esses momentos… entende um pouco das minhas ações, eu acho. Não que elas se justifiquem, de modo algum! Mas… que eu posso fazer do que já não existe mais? Talvez se meus rios estiverem mais quentes por si só, talvez você não precise tanto se rebuliçar assim, não? Sim, sim, está noite será seu natal, se aconchegue no canto mais quentinho do coração, pegue alguns biscoitos e um copo de leite. Ainda temos muitas cartas a escrever, quem sabe o que o amor nos guarda? É quase Natal! Depois disso é tudo novo, mal sabemos o que vamos viver, mas viveremos ambos nos levando a sério, com o gracejo do seu pequenino coração sorridente!

Ah… agora eu ouço!

Se algum dia entenderdes o vosso amor
Talvez ainda tenhamos o que celebrar
Enquanto isso vou aprendendo o meu amor
E o que será de nós? Sei lá!

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Juan Costa Carreiro

Pretendo deixar aqui alguns poemas, ensaios e resenhas de coisas que possam nos interessar. Espero bons retornos de vocês. Abraços. Dixi et animam levavi!